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5 de janeiro de 2012

A transformação de Ester!!


Uma mensagem para as solteiras
por Charo e Paul Washer

Pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o SENHOR olha para o coração. (1 Samuel 16:7)

E, chegando a vez de cada moça, para vir ao rei Assuero, depois que fora feito a ela segundo a lei das mulheres, por doze meses (porque assim se cumpriam os dias das suas purificações, seis meses com óleo de mirra, e seis meses com especiarias, e com as coisas para a purificação das mulheres), Desta maneira, pois, vinha a moça ao rei; dava-se-lhe tudo quanto ela desejava, para levar consigo da casa das mulheres à casa do rei; (Ester 2:12-13)

“Mulher virtuosa quem a achará? O seu valor muito excede ao de rubis. O coração do seu marido está nela confiado; assim ele não necessitará de despojo. Ela só lhe faz bem, e não mal, todos os dias da sua vida. (...)Enganosa é a beleza e vã a formosura, mas a mulher que teme ao SENHOR, essa sim será louvada.” (Proverbios 31)



Eu sempre fiquei espantada com o tipo de preparação que a futura rainha Ester teve que passar antes de entrar na presença do rei Xerxes. Será que qualquer uma de nós passaria por 12 meses de tratamentos de beleza para nos encontrarmos com o homem dos nossos sonhos? Provavelmente não, mas imagine as possibilidades. Tirar um ano para nos prepararmos para um único propósito - tornar-se tudo que você pode ser para aquele que você mais ama. Seria um precioso tempo para cultivar a beleza, fazer um investimento na educação e na etiqueta, para fortalecer as virtudes, e construir o caráter.

A preparação de Ester me faz lembrar de que precioso tempo entre o despertar do desejo do coração de uma jovem mulher em compartilhar sua vida com um companheiro e o momento em que ela caminha até o altar. Para muitos, esse tempo de preparação é visto como nada mais do que um tempo de espera. Mulheres solteiras, muitas vezes se veem como se estivessem na prateleira enquanto a vida passa por elas, ou como sentada em um banco, enquanto outros jogam o jogo. Elas não percebem que estão desperdiçando o tempo mais importante de suas vidas, eles estão privando-se de uma grande alegria e recompensa, eles estão roubando seus futuros maridos de uma mulher mais virtuosa, e eles estão roubando a Deus de uma serva através dos qual Ele deseja fazer grandes coisas.

Ester tinha que ser preparada antes que ela pudesse ser rainha de um reino inteiro, então a mulher deve ser preparada antes de poder embarcar em um dos mais importantes e difíceis chamados da vida - o casamento e a maternidade. Ester teve que aprender os caminhos do reino ao qual ela pertencia, ela tinha que aprender os costumes da vida na corte, teria que estar preparada para enfrentar os desafios intelectuais, emocionais e espirituais do alto cargo que ocuparia. Para colocá-lo simplesmente, Ester teve que ser transformada, de uma simples jovem, em uma rainha antes que ela pudesse usar o título e cumprir o papel. Da mesma forma, a jovem e solteira mulher cristã deve aprender os caminhos do Reino dos Céus antes que ela se una com aquele que Deus está preparando para ela. Ela deve se preparar intelectualmente, emocionalmente e espiritualmente, e não pela vida em sociedade, mas pelo próprio Deus, Sua Palavra, e por outras mulheres piedosas que foram preparadas antes dela.

Vida de solteira não é um desperdício de tempo ou estar sentada nas arquibancadas vendo a vida acontecer, mas é um tempo que Deus separou especialmente para a mulher, para transformá-la naquilo que Ele quer que ela seja, e para usá-la de uma forma que seria impossível depois do casamento. Solteirice é um momento em que uma mulher deve cultivar as virtudes que pertencem a uma verdadeira mulher de Deus, para que ela possa oferecer ao seu futuro marido e ao mundo algo mais do que apenas um rosto bonito.

Lembre-se na sua solteirice que você não é a única que está passando por isso, mas que seu futuro marido também está passando pelo mesmo estágio que você. Não seria uma coisa terrível finalmente conhecer o homem que será seu marido apenas para descobrir que ele tem usado a sua solteirice para servir a Deus e preparar-se para ser um marido melhor para você, e que você não fez uso da liberdade da sua solteirice para servir ao Senhor, e também não tirou proveito do treinamento que Deus lhe ofereceu?

Não seria terrível também perceber que o seu marido passava seus dias de solteiro orando diariamente pelas suas necessidades e pela obra de Deus em sua vida, enquanto você não estava orando por ele, nem estava respondendo à graça de Deus que estava em sua vida como resultado das orações dele.

É uma coisa maravilhosa quando Deus abençoa uma mulher com um marido. Aquela pessoa é “especial”  e é “simplesmente perfeito” para ela, em que ele foi cuidadosamente pensado e projetado por Deus para estar unido com ela. É uma alegria para a mulher poder olhar para trás e lembrar de como Deus lhe permitiu esperar n’Ele e que Ele foi fiel para abençoar. É uma alegria ainda maior alegria saber que seu tempo como uma mulher solteira foi também um momento de buscar a Deus e ser fiel a Ele e Seu propósito. Que ela não quis fugir desse estado, mas desejava apenas confiar em Deus e esperar em Sua soberania graciosa.

De maneira nenhuma é uma tragédia ser uma mulher cristã solteira, mas o mundo mais uma vez se infiltrou no pensamento dos cristãos com a falsa idéia de que é. Uma das maiores mentiras é de que se você não “tiver alguém” ou não estão “ativamente à procura”, há algo de errado com você. Outra mentira é que a mulher solteira deve estar namorando como se procurar um marido fosse a mesma coisa que fazer compras em um shopping. Uma outra mentira ainda mais forte é que a mulher solteira deve dar seu afeto de forma indiscriminada para que ela possa ser mais “experiente” e saber o que fazer quando ela finalmente encontrar o homem de sua escolha. Minha querida Cristã isso é uma mentira e uma afronta a Deus dizer que a experiência é a melhor professora, quando na verdade, Deus é o melhor professor, e, embora o lema  do mundo seja “viva e aprenda” o conselho da Bíblia é “aprenda e viva”. Você não precisa ser experiente, você só precisa ter conhecimento do que Deus tem dito e ser obediente a Ele.

Você não deve olhar para o homem de sua escolha, mas deve estar à espera do homem que Deus escolheu. E quando ele vier, não vão ser as experiências passadas que vão fazer o seu casamento funcionar, mas o passado de castidade, pureza e santidade. Nós devemos esconder nossos rostos dos caminhos e experiências deste mundo perverso e olhar apenas as coisas que Deus tem colocado no caminho que Ele preparou para nós.

Deus sabe exatamente o que você precisa e Ele mesmo sabe os desejos do seu coração melhor do que você. Deus ama surpresas. Ele não quer que você esteja procurando o seu marido, Ele quer trazê-lo para você e, provavelmente, em um momento em que você menos espera. Se você desobedecer a este conselho, assim como muitas outras mulheres antes de você, e buscar por um companheiro você mesma, você pode encontrar alguém, mas as chances são que esse alguém que você encontrar, não será o correto.

Como mulheres, nossa natureza deseja a companhia e companheirismo de um homem. Isto vem de Deus e, portanto, é algo bom. Mas, ao mesmo tempo, estamos erradas em pensar que a morte será o resultado se esta necessidade não for satisfeita. Precisar de outros como companhia não é como a necessidade de respirar. Ou seja, você pode sobreviver sem companhia, pelo menos até Deus fazer Sua obra perfeita em você. Lembre-se das Escrituras, Deus é fiel, Ele não permitirá que você seja tentada além do que você pode suportar. (I Coríntios 10:13)

Descobri que existem duas razões principais pelas quais alguém precisa "desesperadamente" de outra pessoa. A primeira razão, é porque eles não conhecem a Deus como deveriam. Não é Deus o Deus de toda consolação? Não é Cristo, o Senhor exaltado que preenche todas as coisas em todos os lugares? Então por que nos queixamos do sentimento de vazio e nos sentimos sozinhos? Será que Deus estende o nosso tempo de solteirice para que possamos encontrar a nossa vida n'Ele e aprendermos a ser completas n'Ele? Se queremos nos casar porque sentimos que um marido irá encher nossas vidas ou, de alguma forma nos fazer completas, seremos decepcionadas em nosso casamento. Nenhum homem, não importa quão parecido com Cristo ele seja, poderá tomar o lugar de Deus em nossas vidas, e pensar uma coisa dessas é pura idolatria. Se não somos preenchidas completamente por Deus e em Cristo no presente, então nem mesmo um casamento feito no céu será capaz de mudar o nosso vazio.

A segunda razão para precisarmos desesperadamente de alguém em nossas vidas é o egoísmo. Quando precisamos de alguém a fim sentir-nos amado, ou quando precisamos de alguém para que os nossos sentimentos de solidão possam se dissipar, então estamos querendo nos casar pelas razões erradas. O casamento não deve ser encarado como uma oportunidade de ter nossas necessidades atendidas, mas como uma oportunidade para atender as necessidades do outro. Se nós não aprendemos a levar nossas próprias necessidades a Deus, então provavelmente vamos sobrecarregar nossos maridos com nossas necessidades e não teremos consciência das necessidades dele. Eu tenho conhecido mulheres cristãs que passavam os dias consumidas com suas próprias necessidades e constantemente lamentando sobre o porquê Deus não tinha trazido alguém para sua vida. Mas, por que Deus confiaria um homem à uma mulher que é absorvida com si mesma e suas próprias necessidades, e não usa a liberdade de sua solteirice para servir a Deus e preparar-se para os Seus propósitos? Uma mulher como essa teria pouco a oferecer a um marido piedoso!

Minha cara amiga, estar solteira, assim como estar casada, deve ser considerado um momento muito especial e agradável na providência de Deus. Não deve ser considerada uma mera circunstância ou uma maldição da qual deve-se tentar fugir desesperadamente. Ser solteira é um tempo para aprender de Deus e de nós mesmos, um tempo para descobrir quem somos em Cristo, e para crescer em semelhança de Cristo. É um tempo para ser zelosa de boas obras e estar envolvida ministrando aos outros. Ser solteira tem uma magia própria que deve ser apreciada no seu tempo porque uma vez que acabar, não há retorno. Não há nada tão triste como uma mulher, agora casada, que lamenta o que ela poderia ter sido e feito com sua vida, enquanto estava solteira. Tudo foi perdido por causa da pressa em se casar, sem consideração com o plano e obra de Deus.

Cada estação na vida tem sua beleza e maravilha própria. Minha oração para todas as mulheres cristãs solteiras é que elas possam desfrutar de seu tempo, apesar das mentiras do mundo. Que elas possam ser exigente e não se contentar com nada menos do que a perfeita vontade de Deus. Que elas possam esperar pacientemente em Deus, que é o doador de toda boa dádiva. Que elas possam ser como Ester, usando o tempo que Deus considere necessário para torná-las bonitas por dentro e por fora
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MARK DRISCOLL – PREGAÇÃO COMPLETA – O HOMEM E O CASAMENTO

Adoradores ou Consumidores?

Por Augusto Nicodemus


Em certa ocasião o Senhor Jesus teve de fazer uma escolha entre ter 5 mil pessoas que o seguiam por causa dos benefícios que poderiam obter dele, ou ter doze seguidores leais, que o seguiam pelo motivo certo (e mesmo assim, um deles o traiu). Em outras palavras, uma decisão entre muitos consumidores e poucos fiéis discípulos. Refiro-me ao evento da multiplicação dos pães narrado em João 6. Lemos que a multidão, extasiada com o milagre, quis proclamar Jesus como rei, mas ele recusou-se (João 6.15). No dia seguinte, Jesus também se recusa a fazer mais milagres diante da multidão pois percebe que o estão seguindo por causa dos pães que comeram (6.26,30). Sua palavra acerca do pão da vida afugenta quase que todos da multidão (6.60,66), à exceção dos doze discípulos, que afirmam segui-lo por saber que ele é o Salvador, o que tem as palavras de vida eterna (6.67-69).

O Senhor Jesus poderia ter satisfeito às necessidades da multidão e saciado o desejo dela de ter mais milagres, sinais e pão. Teria sido feito rei, e teria o povo ao seu lado. Mas o Senhor preferiu ter um punhado de pessoas que o seguiam pelos motivos certos, a ter uma vasta multidão que o fazia pelos motivos errados. Preferiu discípulos a consumidores.

Infelizmente, parece prevalecer em nossos dias uma mentalidade entre os evangélicos bem semelhante à da multidão nos dias de Jesus. Parece-nos que muitos, à semelhança da sociedade em que vivemos, têm uma mentalidade de consumidores quando se trata das coisas do Reino de Deus. O consumismo característico da nossa época parece ter achado a porta da igreja evangélica, tem entrado com toda a força, e para ficar.

Por consumismo quero dizer o impulso de satisfazer as necessidades, reais ou não, pelo uso de bens ou serviços prestados por outrem. No consumismo, as necessidades pessoais são o centro; e a "escolha" das pessoas, o mais respeitado de seus direitos. Tudo gira em torno da pessoa, e tudo existe para satisfazer as suas necessidades. As coisas ganham importância, validade e relevância à medida em que são capazes de atender estas necessidades.

Esta mentalidade tem permeado, em grande medida, as programações das igrejas, a forma e o conteúdo das pregações, a escolha das músicas, o tipo de liturgia, e as estratégias para crescimento de comunidades locais. Tudo é feito com o objetivo de satisfazer as necessidades emocionais, psicológicas, físicas e materiais das pessoas. E neste afã, prevalece o fim sobre os meios. Métodos são justificados à medida em que se prestam para atrair mais freqüentadores, e torná-los mais felizes, mais alegres, mais satisfeitos, e dispostos a continuar a freqüentar as igrejas.

Esta mentalidade consumista por parte de evangélicos se mostra por vários ângulos. Numa pesquisa recente feita pelo instituto Gallup nos Estados Unidos constatou-se que quatro a cada 10 americanos estão envolvidos em pequenos grupos que se reúnem semanalmente buscando saída para o envolvimento com drogas, problemas familiares, solidão e isolacionismo. Embora evidentemente muitos estarão em busca de uma oportunidade para aprofundar a experiência cristã e crescer no conhecimento de Deus, a maioria, segundo Gallup, busca satisfazer suas necessidades pessoais. De acordo com a revista Newsweek, um a cada cinco americanos sofre de alguma forma de doença mental (incluindo ansiedade, depressão clínica, esquizofrenia, etc.) durante o curso de um ano. E disso se aproveitam os espertos. Uma denúncia contra a indústria evangélica de saúde mental foi feita ano passado por Steve Rabey em Christianity Today. Cada vez mais cresce o marketing nas igrejas na área de aconselhamento, com um número alarmante de profissionais cristãos oferecendo ajuda psicológica através de métodos seculares. A indústria de música cristã tem crescido assustadoramente, abandonando por vezes seu propósito inicial de difundir o Evangelho, e tornando-se cada vez mais um mercado rentável como outro qualquer. A maioria das gravadoras evangélicas nos Estados Unidos pertence à corporações seculares de entretenimento. As estrelas do gospel music cobram cachês altíssimos para suas apresentações. Num recente artigo em Strategies for Today’s Leader, Gary McIntosh defende abertamente que "o negócio das igrejas é servir ao povo". Ele defende que a igreja deve ter uma mentalidade voltada para o "cliente", e traçar seus planos e estratégias visando suas necessidades básicas, e especialmente faze-los sentir-se bem.

Um efeito da mentalidade consumista das igrejas é o que tem sido chamado de "a síndrome da porta de vai-e-vem". As igrejas estão repletas de pessoas buscando sentido para a vida, alívio para suas ansiedades e preocupações. Assim, elas escolhem igrejas como escolhem refrigerantes. Tão logo a igreja que freqüentam deixa de satisfazer as suas necessidades, elas saem pela porta tão facilmente quanto entraram. As pessoas buscam igrejas onde se sintam confortáveis, e se esquecem de que precisam na verdade de uma igreja que as faça crescer em Cristo e no amor para com os outros.

Creio que há vários fatores que provocaram a presente situação. Ao meu ver, um dos mais decisivos é a influência da teologia e dos métodos de Charles G. Finney no evangelicalismo moderno. Houve uma profunda mudança no conceito de evangelização ocorrida no século passado, devido ao trabalho de Charles Finney. Mais do que a teologia do próprio Karl Barth, a teologia e os métodos de Finney têm moldado o moderno evangelicalismo. Ele é o herói de Jerry Falwell, Bill Bright e de Billy Graham; é o celebrado campeão de Keith Green, do movimento de sinais e prodígios, do movimento neopentecostal, e do movimento de crescimento da igreja. Michael Horton afirma que grande parte das dificuldades que a igreja evangélica moderna passa é devida à influência de Finney, particularmente de alguns dos seus desvios teológicos: "Para demonstrar o débito do evangelicalismo moderno a Finney, devemos observar em primeiro lugar os desvios teológicos de Finney Estes desvios fizeram de Finney o pai dos fatores antecedentes aos grandes desafios dentro da própria igreja evangélica hoje: o movimento de crescimento de igrejas, o neopentecostalismo, e o reavivalismo político".

Para muitos no Brasil seria uma surpresa tomar conhecimento do pensamento teológico de Finney. Ele é tido como um dos grandes evangelistas da Igreja Cristã, e estimado e venerado por evangélicos no Brasil como modelo de fé e vida. E não poderia ser diferente, visto que se tem publicado no Brasil apenas obras que exaltam Finney. Desconheço qualquer obra em português que apresente o outro lado. Meu alvo, neste artigo, não é escrever extensamente sobre o assunto, mas mostrar a relação de causa e efeito que existe entre o ensino e métodos de Finney e a mentalidade consumista dos evangélicos hoje.

Em sua obra sobre teologia sistemática (Systematic Theology [Bethany, 1976]), escrita pelo fim de seu ministério, quando era professor do seminário de Oberlin, Finney revela ter abraçado ensinos estranhos ao Cristianismo histórico. Ele ensina que a perfeição moral é condição para justificação, e que ninguém poderá ser justificado de seus pecados enquanto tiver pecado em si (p. 57); afirma que o verdadeiro cristão perde sua justificação (e conseqüentemente, a salvação) toda vez que peca (p. 46); demonstra que não acredita em pecado original e nem na depravação inerente ao ser humano (p. 179); afirma que o homem é perfeitamente capaz de aceitar por si mesmo, sem a ajuda do Espírito Santo, a oferta do Evangelho. Mais surpreendente ainda, Finney nega que Cristo morreu para pagar os pecados de alguém; ele havia morrido com um propósito, o de reafirmar o governo moral de Deus, e nos dar o exemplo de como agradar a Deus (pp. 206-217). Finney nega ainda, de forma veemente, a imputação dos méritos de Cristo ao pecador, e rejeita a idéia da justificação com base da obra de Cristo em lugar dos pecadores (pp. 320-333). Quanto à aplicação da redenção, Finney nega a idéia de que o novo nascimento é um milagre operado sobrenaturalmente por Deus na alma humana. Para ele, "regeneração consiste no pecador mudar sua escolha última, sua intenção e suas preferência; ou ainda, mudar do egoísmo para o amor e a benevolência", e tudo isto movido pela influência moral do exemplo de Cristo ao morrer na cruz (p. 224).

Finney, reagindo contra a influência calvinista que predominava no Grande Avivamento ocorrido na Nova Inglaterra do século passado, mudou a ênfase que havia à pregação doutrinária para uma ênfase à fazer com que as pessoas "tomassem uma decisão", ou que fizessem uma escolha. No prefácio da sua Systematic Theology ele declara a base da sua metodologia: "Um reavivamento não é um milagre ou não depende de um milagre, em qualquer sentido. É meramente o resultado filosófico da aplicação correta dos métodos."

Finney não estava descobrindo uma nova verdade, mas abraçando um erro antigo, defendido por Pelágio no século IV, e condenado como herético pela Igreja, ou seja, que nenhum de nós nasce pecador; o homem, por nascimento, é neutro, e capaz de fazer escolhas para o bem e para o mal com inteira liberdade. Finney tem sido corretamente descrito por estudiosos evangélicos como sendo semi-pelagiano (ou mesmo, pelagiano) em sua doutrina, e um dos responsáveis maiores pela disseminação deste erro antigo entre as igrejas modernas.

Na teologia de Finney, Deus não é soberano, o homem não é um pecador por natureza, a expiação de Cristo não é um pagamento válido pelo pecado, a doutrina da justificação pela imputação é insultante à razão e à moralidade, o novo nascimento é produzido simplesmente por técnicas bem sucedidas, e avivamento é o resultado de campanhas bem planejadas com os métodos corretos.

Antes de Finney, os evangelistas reformados aguardavam sinais ou evidências da operação do Espírito Santo nos pecadores, trazendo-os debaixo de convicção de pecado, para então guiá-los à Cristo. Não colocavam pressão sobre a vontade dos pecadores, por meio psicológicos, com receio de produzir falsas conversões. Finney, porém, seguiu caminho oposto, e seu caminho prevaleceu. Já que acreditava na capacidade inerente da vontade humana de tomar decisões espirituais quando o desejasse, suas campanhas de evangelismo e de reavivamento passaram a girar em torno de um simples propósito: levar os pecadores a fazer uma escolha imediata de seguir a Cristo. Com isto, introduziu novos métodos nos seus cultos, como o "banco dos ansiosos" (de onde veio a prática de se fazer apelos ao final da mensagem), o uso de qualquer medidas que provocassem um estado emocional propício ao pecador para escolher a Deus, o que incluía apelos emocionais e denúncias terríveis do pecado e do juízo.

O impacto dos métodos reavivalistas de Finney no evangelicalismo moderno são tremendos. Seus sucessores têm perpetuado estes métodos e mantido as características do fundador: o apelo por decisões imediatas, baseadas na vontade humana; o estímulo das emoções como alvo do culto; o desprezo pela doutrina; e a ênfase que se dá na pregação a se fazer uma escolha, em vez da ênfase às grandes doutrinas da graça. As igrejas evangélicas de hoje, influenciadas pela teologia e pelos métodos de Finney, acreditando que reavivamentos podem ser produzidos, e que pecadores podem decidir seguir a Cristo quando o desejarem, têm adotado táticas e práticas em que as pessoas são vistas como clientes, e que promovem a mentalidade consumista nas igrejas evangélicas.

A relação entre os métodos de Finney e o espírito consumista moderno foi corretamente notado por Rodney Clapp, em recente artigo na Christianity Today (Outubro de 1966): "Ao enfatizar a importância de se tomar uma decisão para Cristo, Charles Finney e outros reavivalistas ajudaram na sacramentalização da ‘escolha’, elemento chave do consumismo capitalista de hoje. O reavivalismo [de Finney] encorajava sentimentos de êxtase e a abertura do indivíduo para mudanças costumeiras de conversão e reconversão" (p. 22).

O Senhor Jesus preferiu doze seguidores genuínos a ter uma multidão de consumidores. Creio que a igreja evangélica brasileira precisa seguir a Cristo também aqui. É preciso que reconheçamos que as tendências modernas em alguns quartéis evangélicos é a de produzir consumidores, muito mais que reais discípulos de Cristo, pela forma de culto, liturgias, atrações, e eventos que promovem. Um retorno às antigas doutrinas da graça, pregadas pelos apóstolos e pelos reformadores, enfatizando a busca da glória de Deus como alvo maior do homem, poderá melhorar esse estado de coisas.


Via: Hermeneutica Particular

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